Depois de verificar alguns apontamentos no meu disco rígido, encontrei várias informações sobre a história da freguesia de Santa Eufémia.
Como não sou egoísta, gostaria de partilhar um pedaço da cultura da nossa história com os leitores deste blog.
“Há almas a que não bastará nunca a razão e a inteligência. Precisam de sonho, de infinito! A minha alma é assim. Não posso limitar-me a uma felicidade egoísta, preciso de felicidade do mundo; mas como essa aspiração é irrealizável, contentar-me-ei dando a minha contribuição para a felicidade do pequeno mundo em que posso intervir.”
Autor desconhecido …
Um artigo escrito por Reinaldo Ferreira do jornal O Ribatejo datado de 26 de Junho de 1987:
“Recordações de Navegação” é o título de um livro que a Associação dos Amigos do Tejo acaba de editar. Trata-se da compilação de manuscritos do mestre Vicente Francisco, um arrais nascido no lugar de Amoreira, freguesia de Rio de Moinhos, concelho de Abrantes, actualmente a viver em Salvaterra de Magos. Dividido em quatro capítulos e ilustrado com 14 desenhos, o livro constitui um repertório vivo das aventuras e desventuras por que passou o Mestre Vicente na sua faina no Tejo. É uma oportunidade para conhecer melhor o que foi a vida no grande rio a partir dos anos vinte, ainda por cima sendo o livro de distribuição gratuita.
O Tejo visto por Mestre Vicente
A Associação dos Amigos do Tejo acaba de editar uma obra de cerca de sessenta páginas intitulada “Recordação de Navegação” da autoria do mestre Vicente Francisco, um arrais nascido em 1912 no lugar de Amoreira, freguesia de Rio de Moinhos, concelho de Abrantes actualmente a viver em Salvaterra de Magos.
Começou a trabalhar com dez anos de idade, tendo sido aprovado no exame para arrais dez anos depois, passando depois disso a ser responsável pela condução das embarcações que navegavam no Tejo e seus afluentes de porte superior a vinte toneladas.
Dividido em quatro capítulos, intitulados: “Tristezas”, “Alegrias”, “Sustos” e “Saudades”, o livro é ilustrado com 14 desenhos de Carlos Salgado, um dos sócios fundadores da Associação dos Amigos do Tejo.
Nele são relatados vários episódios da vida do rio: as richas entre os avieiros e os homens das fragatas, os pulos dos golfinhos frente a Vila Franca ou aquele que foi morto por um pescador próximo de Constância, as passagens ao lado de Castelo de Almourol “que punham os cabelos em pé” um naufrágio provocado pelo choque duma embarcação com a ponte de caminho de ferro em Praia do Ribatejo; o ciclone de 1941 e os seus estragos, as cheias, as festas populares da Nossa Senhora da Boa Viagem e dos lavradores de Salvaterra e Vila Franca ou de Carnaval no Barreiro. O afogamento dum rapaz do Sobralinho frente a Alhandra; a nortada que pôs em perigo o seu barco “SALVA-RIO” quando navegava “carregado com 610 sacas de arroz, entre Alcochete e Alhandra”.
O transporte de cascos com vinho do Cartaxo para Lisboa e do metano (rama de pinho) de Benavente para a praia de Paço de Arcos ou ainda de cavacas de madeira de pinho que viajavam do Porto Alto (Samora Correia) para a fábrica de loiça de Sacavém.
O Mestre Vicente escreveu as suas “recordações” para que os seus netos quando chegassem a adultos soubessem “o que foi a navegação e os trabalhos que os barcos faziam transportando toda a qualidade de mercadorias, desde Abrantes a todos os cais e portos navegáveis, na margem Norte ou Sul.
Por graças, Carlos Salgado chamou-lhe o Fernão Mendes Pinto do Tejo. E como diz na nota introdutório do livro, Mestre Vicente Francisco é um “homem experiente, interessante e interessado, bom narrador, com imagens verbais fabulosas”.
Em boa hora a AAT descobriu os seus manuscritos e, quando pegando neles, os resolveu dar a estampa. Felizmente que a Secretaria de Estado do Ambiente e Recursos Naturais e a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos se propuseram apoiar também a edição do livro de distribuição gratuita.
Esta é uma homenagem ao falecido Mestre Arrais, grande Homem que marcou e perpetuou em livro o seu gosto pelo Rio Tejo marcando assim um testemunho riquíssimo da nossa história.
No dia em que encontrei e li este livro fiquei 2 horas feliz por ter descoberto a vida deste Mestre.
A página que mais me marcou é sobre: Antiga Recordação:
No lugar de Amoreira (…) foi construído um cais em 1921, na margem
Os anos foram passando e as cheias juntaram terras em cima do dito
A vida só se compreende medianta um retorno ao passado, mas só se vive para diante - Kierkegaard Soren