1924-2009
"Dos 17 aos 23 anos
Cá com as minhas cantigas
Consegui arranjar namoro
Com várias raparigas"
Álvaro Santos Pereira mais conhecido por "Mata Ratos", uma alcunha aceite por ele enquanto vivo, apagou-se e foi enterrado hoje.
Uma figura crismática de Rio de Moinhos que ficará a jamais nos corações dos riomoinhenses.
Um bom Homem, sempre bem disposto e que gostava de animar a malta.
Era também conhecido pelas suas prosas e versos dedicados as pessoas e aos acontecimentos da terra.
Vamos ter saudades da sua boa disposição.
Para os seus familiares directos nomeadamente à sua esposa, as minhas sinceras e sentidas condolências.
Fica aqui um dos últimos poemas escrito por ele que retratam a sua vida.
No ano de 2005, pedi ao Sr. Álvaro Pereira que me fizesse um resumo da sua vida em versos. O que ele fez com muito gosto.
Para que ficasse a jamais gravada nas memórias dos riomoinhenses, fica aqui a sua auto-biografia.
Para os cibernautas e em respeito à sua memória ...
I
Comecei a trabalhar aos 12 anos
Trabalhei até aos 68
Mas aqui tive que parar
Senão ficava feito num oito
II
Agora vou descrever
Porque penso nisso a rodo
Como foi o meu trabalho
Durante este tempo todo
III
Comecei a trabalhar
E reparem com atenção
A trabalhar numa fábrica
Que era a serração do Covão
IV
Andei a aprender a sapateiro
Lembro-me muito bem agora
Mas aquilo não dava nada
E eu safei-me de lá para fora
V
Foi na sapataria do saudoso “Calcinhas”
Mas isso agora não importa
Trabalhava lá o falecido “Fama”
E o Luís Canhoto
VI
Aos 17 anos fui para Alferrarede
Lembro-me disto muitas vezes
E reparem que trabalhei lá
Cinquenta anos e nove meses
VII
Andei três anos a pé
O que já foi demais
16 anos de motorizada
E 31 de bicicleta a pedais
VIII
Lembro-me que um dia de bicicleta a pedais
Mesmo a chegar ao quartel
Formou-se um forte temporal
Que me entornou o farnel
IX
Foi um forte temporal
Que não tinha nada de arrevesas
Eu ia com o guarda-chuva aberto
E voltou-me das avessas
X
Nesse tempo ainda não havia
Os tais fatos de oleado
E eu chegava a Alferrarede
Num pinguinho todo molhado
XI
No verão ainda escapava
Era melhor para a rapaziada
Porque atalhávamos por S. Lourenço
E comíamos frutos à beira da estrada
´
XII
Mas um dia apareceu o dono
A gente começou-se a rir
Ele agarrou num grande pau
E nós tivemos que fugir
XIII
E foi assim que foi a minha vida
No que diz respeito ao trabalho
Lembro-me bem de tudo isto
E tenho a certeza que não falho
XIV
Mudando agora de assunto
Porque isso ainda hoje está na moda
Nós quando somos novos
Andamos com a cabeça a roda
XV
Eu quando era novo
Andava de pés em bicos
Só para ver se conseguia
Arranjar namoricos
XVI
Dos 17 aos 23 anos
Cá com as minhas cantigas
Consegui arranjar namoro
Com várias raparigas
XVII
Não namorei muitas nem poucas
Arranjei assim assim
Quando me aborrecia largava-as
E algumas largavam-me a mim
XVIII
E assim se passou o tempo
Da minha mocidade
Que ainda hoje recordo
Com muita e muita saudade
XIX
Saudades todos temos
Dos nossos tempos de novinhos
E para mais agora
Quando já vamos para velhinhos
XX
Nasci em 1924
Tenho 80 anos de idade
E agora em muitos casos
Já nos vai faltando a vontade
XXI
Aos 13 anos de idade
Já tinha uma namorada
Eram coisas de cachopos
Que agora não interessa nada
XXII
Ganhava 16 tostões por dia
Era um ordenado dos tais
Minha saudosa mãe dava-me cinco tostões
Ao Domingo pois não podia dar mais
XXIII
Num dia fui com ela para a feira
Mas com um medo tamanho
Como não tinha dinheiro na carteira
Escondi-me na casa de banho
XXIV
No dia seguinte falamos
E ela disse: “deste-me um desgosto”
E eu respondi: “que me vim embora
Porque estava mal disposto”
XXV
Quando estava na escola para a 4ª classe
O meu professor dizia-me que eu era inteligente
E eu como ouvia aquilo
Ficava feliz e contente
XXVI
Depois fomos a exame
Numa manhã de verão
E ainda me recordo
Que apanhei uma distinção
XXVII
Fiz então o meu exame
E para que isso não bastasse
Como não havia dinheiro
Fiquei apenas com a 4ª classe
XXVIII
Quando o dinheiro é poucochinho
Isso também não convém
Pois cada qual tem que se governar
Só com aquilo que tem
XXIX
É que se eu tivesse dinheiro
Como há para aí alguns que estão fartos
Eu tinha entrado na faculdade
E hoje era o Dr. Mata Ratos
XXX
Fui presidente e tesoureiro
Da nossa Casa do Povo
E mais tarde passei a continuo
Cá do nosso povo
XXXI
Dos meus colegas de exame
Por destino está tudo moribundo
E só eu graças a Deus
É que ainda estou neste mundo
XXXII
Nasci e vivo em Rio de Moinhos
Que fica à beirinha do Tejo
Antigamente até lhe chamavam
A Sintra do Ribatejo
XXXIII
Mas embora nos custe muito
Temos que dizer a verdade
Como Rio de Moinhos era dantes
Hoje é apenas uma saudade
XXXIV
Ensaiava marchas de Carnaval
Umas menos outras mais capazes
Mas normalmente só ensaiava
Eram marchas com rapazes
XXXV
Ensaiávamos com força e alegria
As várias terras fomos com vontade
Lembramo-nos com muita pena
E disso temos muita saudade
XXXVI
Pediram-me para fazer isto
O que fiz com vontade e afinco
Agora termino desejando a todos
Um bom ano de 2005
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